Tem dias em que acordo com a cabeça doendo. É porque preciso escrever, mas não consigo organizar os pensamentos, as ideias ficam pipocando e eu sou muito mais da poesia do que da prosa. Mando à merda poeticamente e a pessoa talvez até me agradeça por isso. E então acontecem dias como este, em que minha cabeça lateja, minha testa dói e eu sinto vontade de vender tudo e ir pra outro país. Só de raiva. No susto.
Eu acordei mal humorada por causa de um sonho. É, de um sonho! Sonhei que um cara que eu gostei falava pra outro assim, bem na minha frente: ah, um homem de verdade sabe qual mulher deve ser levada a sério. Só isso. E acordei com uma dor no pescoço danada, devo ter ficado toda retesada, louca pra mandar aquele imbecil pro inferno. Me levantei, senti um estalo na nuca, comecei o dia sem agitação (não levanto na pressão, detesto, mas faço se for preciso) e me coloquei a refletir sobre a raiva do sonho. Ou melhor, da frase do cara no sonho.
Pensei primeiro nos suicidas. Creio que toda gente sente medo, raiva, solidão, abandono, desesperança em algum momento da vida. A forma de reagir é que faz a diferença. Eu sinto constantemente um monte desses sentimentos, isolados ou em combos. Tenho relações dificílimas com pessoas muito próximas. Algumas me olham como se eu fosse um ser de outro mundo e quando eu abro a boca e digo o que penso, nossa, aí então é que as sobrancelhas se arqueiam. Eu incomodo com meu jeito. Mas como é que fica a dor de quem incomoda e é humilhado por isso, abandonado, ignorado, esquecido, se tornando o esquisito, o pobre coitado, o"invisível social"?
Pensei na importância que realmente temos para outro ser humano. Precisaria eu ser uma mulher criada para o matrimônio para ser valorizada? Precisaria eu ser de estirpe, ter pedigree (grrrrr), ser virgem, ser santa na rua, lady na mesa e nem pensar em ser aquela palavrinha mágica na cama, para ser enfim valorizada? Nesse momento, meu estômago roncou de fome e fiz um misto quente, que tomei com o café preto açucarado que a minha tia faz.
O pensamento não me deu sossego mesmo depois de saciada a fome do corpo. Minha mente é que estava faminta e eu fiquei ali sem saber o que oferecer a ela. Fast food cerebral, nem pensar, eu não poderia. O jeito era continuar pensando, refletindo, criando teses, teorias e conjecturas infindáveis até à hora do almoço.
É, eu não sou dessas. Concordei com ele. Um homem que sabe qual mulher deve ser levada a sério, foi criada pro casamento e possivelmente será traída até que a morte os separe, um homem que poderá até amar outra ou outras, com a qual ou quais viverá tudo de melhor e mais significativo em sua vida, mas que jamais terá a coragem de assumir o que sente e o que quer porque tem um papel social a cumprir e uma satisfação para prestar, esse homem, que acredita que o mundo é assim e não vai mudar, esse homem sim, é fast food para uma mulher como eu e tantas outras. Uma porcaria de um homem que não nutre, que não satisfaz, que pode até ser gostoso, ser uma tentação, mas que não vale o sacrifício de ser comido porque com certeza será expelido posteriormente com extrema dificuldade, nos obrigando a usar um laxante e não vale nem o chá de sene que se compra na feira. Um homem tóxico, cheio de acrilamida, de glutamato monossódico, de gordura trans. Um homem lixo, sem dúvida. Mas que da mesma forma que a comida lixo, ainda ocupa espaço no cardápio de muitas mulheres por aí.
E a dieta, como fica? Fica com o bom senso, a inteligência, as boas escolhas e, claro, a certeira e para sempre eficaz reeducação alimentar.