Bem vindo às Terras de Salém. Onde a Magia nunca tem fim.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tua Presença


Antes de ter contigo à mesa
Tudo é estranhamente normal
Vejo e ouço com clareza
Tudo está certo, é natural

Depois de algumas horas contigo
Meus pensamentos fluem rapidamente
Verbalizar é difícil
Difícil dizer o que se sente

Deixo-te; estou entorpecida e leve
O sorriso vai comigo aonde eu for
Por horas longas, que parecem breves
Sinto na pele o seu ardor

Durante o sono sinto-te mil vezes
A ferver em mim milhões de pensamentos
Versos, imagens e dizeres
Que de manhã ao acordar ainda me lembro

Mas quão difícil é o depois da tua partida
Me sinto oca, tonta, desolada
Todo o corpo sente a despedida
E espera ardente por nova hora marcada
Para encontrar-te e sorver-te o gosto quente
E a anestesia para a vida desejada



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Água e a Terra

A água a terra.
A água cai.
A terra está.
Movimento.
Pausa.
A água toca na terra.
Penetra-a.
Tornando-a menos dura.
Menos inflexível.
Mais macia.
A água fecunda-a de vida.
A terra retribui com cores.
Aromas .
Formas.
Sabores.
A água e a terra
Moldam a vida
Faz o homem
Cura ferida
A terra dá o curso
Do caminho que a água faz
E nesse belo percurso
A água e a terra ficam em paz!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Eterno em Nós





E então a Deusa fez o mundo
E junto com Zeus nos criou

Dos abismos mais profundos
Ao mais forte vento que ventou
No alto da mais alta montanha
Lá estávamos nós
Atravessado planícies
Juntos, a sós

Cruzando cordilheiras e oceanos
Lado a lado lutamos
Fomos noite, fomos dia
Fomos o eterno em nós

Irmãos
Pai e mãe
Amigos
Amantes
E o que podia ser uma aventura errante
Virou paz
Virou abrigo

Eu te descobria
Conhecendo-te o brilho negro do olhar forte
Sorriso calmo que prenuncia a morte
Como a maciez do andar do lobo traz o sol do novo dia

Conheço a força de teus braços no abraço
E a intensidade com que matas o inimigo
Ah! Sim, conheço bem!

Conheço todas as guerras inatas
Todas as lutas insensatas
E as vitórias perdidas também

E tu me olhaste e me viste fêmea
Me viste estrela do Oriente
Me viste luz

Luz que te guiava, iluminando tua estrada
Te conduzindo pela mão
Às doces terras do coração

Prazer alucinante e dor
Aconchego viciante
Provocante amor

Mas as escolhas que fizemos desta vez
Nos separou em corpos
Nos endureceu a tez
E deixei-o só, e me vi só
Andando por caminhos tão distantes
Que agora pisam teus pés, o pó

Quem dera nos tivéssemos
Conhecido em outros tempos
Antes de fatídicos acontecimentos
Que por fim, nos separaram

Se tudo fosse diferente
Se nada impedisse a gente
De lutar uma luta fatal
Hoje um estrela só sua
Brilharia no seu quintal

Viveria a podar as anãs
As pequenas estrelas pagãs
De sabedoria ancestral

Mas o mistério permanece
Num segredo de ti para mim
Que tu finges não saber que sei
E eu finjo não dizer que é assim

E dessa forma, seguindo a girar
A roda que é o pensar
Mas também é a decisão
Somos um só novamente
Em corpo, alma e coração

A enganar solenemente
A fingir que é inexistente
A tola e ingênua razão

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Ouroboros


Ela abriu os olhos. Estava finalmente de volta ao lar, acolhida, protegida, resguardada por aquelas velhas paredes que ela mesma construíra ao longo dos anos. Assim que acordou, imediatamente recordou-se da tempestade do dia anterior e de todos os dias que antecederam aquele momento, desde  o começo de sua tormenta. Olhou em volta e vislumbrou com orgulho e também com um certo pesar aquelas paredes, ainda tão belas, mas já muito marcadas por vários furos, arranhões e pregos. Sentiu o cheiro de casa. Respirou profundamente, espreguiçando-se na cama macia e então, como um relâmpago que atravessa o céu, ele veio em seu pensamento. Sentiu na mesma hora aquela dor aguda no estômago, seguida de uma náusea e de um calafrio que pareceu durar a eternidade. Resolveu afastar aquela sensação. Depois de alguns minutos, conseguiu pensar sem medo algum, apenas com a serenidade que alcançara através de muitas lutas e de feridas mortais.  Mais uma vez, o velho vulcão tinha despertado, ameaçando tudo e todos com sua fúria, com sua impiedade. Ela bem conhecia aquela sensação de pânico crescente. Mas acostumara-se a lidar com o medo do inesperado.  A saber a hora de agir e a hora de recuar. Todavia, diferentemente dos outros, sempre  mais comedidos e mais ponderados, ela raramente recuava.

Um dia, numa despreocupada madrugada de terça, o velho vulcão, já plenamente desperto, resolveu então dar sinais de que sua devastação dessa vez seria implacável, intensa, arrasadora e irreversível. Ela olhou ainda uma vez  para aquela montanha imponente, sentindo-se pequena e desprotegida diante de sua magnitude e força, mas absolutamente consciente de que essa luta não seria como as outras. Algo mudara desde as últimas erupções. Algo novo e ainda mais forte do que antes estava borbulhando naquela lava. Algo incontrolável e impossível de ser parado estava ali, pulsando no coração daquele vulcão, pronto para devorar-lhe a carne. Ela sentiu um profundo medo em seu coração. Um medo real. O mesmo medo que sentira em outras ocasiões como esta, porém, com uma intensidade inexplicável. Ela soube então que agora seria de verdade. Agora seria pra valer.

Debaixo de olhares reprovadores e admirados de todo o povo daquele lugar, ela começou a subir a montanha. Os gritos de "Volte! Você está louca?!" e " Não faça isso a você mesma!" foram ficando cada vez mais baixos, mais fracos, até desaparecerem por completo. Sua libertação era também a libertação daquelas pessoas, que nunca poderiam entender questões como renascimento e morte, tão presos que estavam em suas vidas comuns. Felizes, mas comuns. Nada de novo. Apenas a falsa sensação de estabilidade que a rotina traz. Na sua frente agora só uma fumaça preta e fuligem começavam a se transformar num espesso paredão, e o calor aumentava a cada metro percorrido. Estava próxima de seu objetivo, pensou consigo mesma. Mais uma vez, iria experimentar aquele medo, aquele abandono, aquele vazio, aquela sensação única que só os grandes na alma conhecem, porque sabia que no fundo, esse é destino dos que têm a alma a transbordar. Ser, acima de tudo, sozinhos.  Teve plena consciência da beleza daquele momento. E também de toda a tristeza que ele trazia em si. Em seu peito agora, só um imenso buraco negro. Um imenso vazio, que em breve, seria da forma mais completa e perfeita possível, preenchido.

Olhou lá do alto a lava fervente do velho vulcão e pôde ouvi-la nitidamente chamar o seu nome. O momento havia chegado. Não mais o adiaria, não poderia fazer mais isso, sentira no começo de tudo que, dessa vez, apesar de todas as lutas, de todos os esforços, das batalhas que ganhara até então, havia perdido a guerra. Mas sabia também que perder era receber de volta a própria liberdade e por isso não mais sentiu medo. Não precisava mais lutar contra aquele sentimento.  Fechou os olhos e então mergulhou.

Mergulhou um mergulho profundo e sem medo naquele calor, e durante todo o tempo em que caía, lembrou-se de vários momentos de sua vida. Lembrou com saudade das algazarras que fazia junto dos seus na infância, das disputas adolescentes, dos momentos de sofrimento e também das horas felizes. Tinha vivido aquela vida plenamente. Não havia apenas passado por esta Terra, mas havia vivido. Havia sentido coisas que ninguém jamais sonhara em sentir, entendia esses sentimentos, os sabia reconhecer. Isso a tornava tão mais rica, tão mais bela, tão mais eterna! Era eterna! E a eternidade podia ser sentida de uma forma cada vez mais quente, cada vez mais acolhedora, cada vez mais próxima. Minutos antes de tocar a lava do velho vulcão, pensou no que de mais intenso havia experimentado até aquele dia. E quando, finalmente, seu corpo foi entregue às chamas, ela pôde, pela primeira vez naquela existência, experimentar na mente, no corpo, na alma e no coração, toda a realização que só uma coisa é capaz de trazer à qualquer criatura viva na face da Terra. Ao entregar a si própria em sacrifício, ela soube que o buraco em seu peito havia finalmente sido preenchido e isso era só o que importava. Ao abraçar o fogo, ela soube então que sentia, pela primeira vez, toda a plenitude do verdadeiro Amor.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pegar Pensamentos (ou A alquimia do que virá)




Numa noite nem tão fria assim
Peguei todos os meus pensamentos
E em fogo, água, terra e ar
Os transformei
Transmutei os meus sentimentos
As palavras, alquimizei
O beijo então virou rubi
Abraço era água marinha
O olhar de turmalina
Sorrisos, diamantes
O toque das mãos é olho de tigre
Sorte, força e poder.
A coroa do rei é de ouro maciço
Sinto, logo existo
Na alquimia das sensações tórridas
O fogo é o elemento transformador
Não há lógica alguma nisso
Não, não há
Mas se sinto e logo existo
Me transmuto a mim mesmo
Pego todos os pensamentos
E alquimizo com o que virá
O futuro a deus nenhum pertence
O futuro a Sibilla me dirá

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Como nascem os planetas



No começo é o Nada.
A escuridão.
Um ponto de luz se materializa no espaço vazio.
Um outro ponto de luz também surge de repente.
E se olham na imensidão.
E se atraem.
E começam juntos a bailar no espaço sideral.
A dança cósmica de seu nascimento.
E se tocam.
E se encantam.
E se amam.
E se misturam um ao outro numa efervescência galáctica.
E uma forte pressão começa a ser sentida.
As estrelas param de girar por um segundo.
Um segundo transformado em eternidade.
O Universo implode.
E os pontos de luz explodem.
Juntos.
E de seus incontáveis micro pontos de luz.
Girando no nada e na elipse invisível.
Onde o Sol queima e atrai.
Nasce um planeta.
Dessa explosão de luz e cor.
O que se separa, une.
O que se une, consolida.
Oceanos acordam.
Continentes se movimentam.
Todos os seres respiram na superfície.
E sob a sombra de um carvalho.
Deitados na relva úmida.
Ele e ela estão abraçados.
E descansam de sua criação.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

De tudo o que não sei


Momento estranho
Tacanho
Oblíquo momento
Onde não sopra um vento
Momento ruim
Pulsa em mim
Traz o escuro
O frio
Arrepio sem fim
Não é bom
Não é quente
Não vem da gente
Vem do fim
Do que ainda é só começo
Vem certeiro
Me entrego
Me despeço
Medo verdadeiro
De tudo o que não sei, enfim