Bem vindo às Terras de Salém. Onde a Magia nunca tem fim.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Soneto da morte ao luar


Dói-me no peito todas as dores deste mundo.
A vida esvai-se lenta e dolorida por minh’alma.
Nenhum sorriso me acalenta ou traz –me a calma.
Nenhum bálsamo cura-me o corpo nauseabundo.

Negra noite eterna se faz presente em meu viver.
Silencio e solidão são de mim os companheiros.
Somente alguns olhares passam por mim ligeiros.
E expressam pranto e compaixão pelo meu ser.

Abandonei-me à própria vida, auxiliando minha morte.
Poupei-lhe o tempo eterno de um pesar.
Mas ao contrário não sou um pobre, tenho sorte.

Morrerei ainda esta noite, lenta e suave morte.
A morte gentil e fremitante,
Daqueles que morrem sorrindo ao luar.


domingo, 10 de novembro de 2013

A Mente Que Habito



Não me entendo
Não me compreendo
Me arrependo
Um emaranhado de fios

Fios desencapados
Encostando-se
Dando curto
Queimando minha sanidade

Para onde? Por onde? Por quê? Quando?
Dúvidas, dúvidas...
Conflitos, dores, pudores, amores
Ilusão, desilusão, confusão, mais e mais dúvidas...

Meu, seu, nosso, de ninguém
Escuro, claro, longe, perto
Cima, baixo, um lado, ou outro
Que coisa de louco!

Será que sou louca?
Ou o mundo é que é?
Será que você é louco?
Será que nós somos?

Será que seremos nós?
Será que é só você?
Meu Deus, quantas perguntas...
Será que mais alguém vê?

Não me entendo
Não me compreendo
Só sei que está doendo
E me arrependo por isso

Vejo tudo
Ao mesmo tempo não vejo nada
Tenho tudo
Ao mesmo tempo não tenho nada

Poderia ser tudo mais fácil
Se não fosse tão difícil
Poderia ser mais rápido
Se não fosse tão demorado

Tudo depende da minha sanidade
Da minha dificuldade
Só lhe peço paciência
Não estou de bem com minha consciência

Não me entendo
Não me compreendo
Só sei que está doendo
Sim, eu estou vendo

Me desculpe, eu não faço por mal
Eu queria ser normal
Mas não consigo!
E nem sei por quê!

Não sei quem sou
Não sei o que quero
Não sei o que espero
Eu apenas não decido

Falemos sério agora
Na boa, eu não entendo
Eu não compreendo
Eu não ME entendo

Só sei que está doendo
E é difícil para mim, não saber mais do que isso
Está doendo
E é só isso

Um poema da "poetamiga" Jessica Kaczmarkiewcz, que com maestria rege as palavras que tocam música para a alma ouvir.

sábado, 26 de outubro de 2013

Prisma




Um banho que amenize o calor
Uma cama que comporte o amor
Uma vida inteira para viver
Uma eternidade para aprender
Ser plenitude
Ser altitude
Voar
Atravessar dimensões
Experimentar sensações
Nascer
Morrer
Dormir
Acordar
Esquecer tudo o que é morto
Tudo o que é vivo lembrar
Partir desse mundo sem cor
No mundo multicolor despertar
Multiforma
Multiaroma
Multisabor
Eu e Tu
Tu e Eu
Nesta vida e na outra
Multieterno
MultiAmor

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Toda Mulher é uma Bruxa – Parte II (ou O Folk da Feiticeira)

Um diálogo com o poema de um certo cético, um lord inglês, um filho de Shiva, mal humorado ao extremo e adorado pelas Bruxas de Salém na mesma intensidade.




Bruxas têm boa visão.
E boa audição possuem também!
Fingem não prestar atenção...
Mas enxergam e ouvem muito bem!

Bruxas são sinápticas.
Difícil as enganar.
Se divertem, mas são práticas.
Não se deixam assim levar...

Enganar uma bruxa não é fácil missão.
Há de ter perspicácia e habilidade.
Ao menor caso de distração.
Elas confrontam-te à realidade.

Feliz é aquele que sincero pensa.
Que sincero fala e sincero faz.
Há de ter bela recompensa.

Com uma bruxa amiga viver em paz!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Partir




Partir ao meio
Dividir
Soltar
Deixar ir
Deixar rolar
Deixar seguir
Partir pra longe
Partir insone
Não encontrar
Reencontrar
Reconhecer
Assumir
Entender
Abstrair
Enlouquecer
Surtar
Sumir
Amar o todo
Partir o todo
Deixar voltar
Sentir
Sentir o pouco
Sentir o muito
Caminhar
Partir

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Muito




É que tenho muito.
Muito amor.
Fervo muito.
Muito ardor.
O contido e o vasto.
A libido e o casto.
O frio e o calor.
O cimento e o pasto.
O novo e o gasto.
Alegria e dor.
Régua e compasso.
O vivo e o nefasto.
O ódio e o amor.

sábado, 27 de julho de 2013

Solidão



Hoje sinto demais a solidão que tira a minha a paz.
Tão algoz que nada satisfaz.
Nem mesmo a lembrança de cada momento quando sorrimos.
E nem quando olhamos o firmamento.
Solidão, que diz Osvaldo, "a gente jura que não merecia".
Solidão de tocar aquela cama vazia.
Quando se desperta no amanhecer.
Solidão que te faz sonhar.
Mas que te faz sentir morrer.
Solidão que gera um vazio no lençol frio.
Solidão que não se merecia...
Solidão que nem na lágrima cabia...
O relógio de parede não para por um segundo.
Quero fazer girar ao contrário o mundo.
E aproveitar todo o tempo que perdi.
E sentir aquele amor todo que senti.
Mas por ti apenas, apenas por ti.
Solidão que por vezes me enlouquece.
Cada batida do coração diz “esquece”.
E joga logo pro alto todas as convenções.
Bota de lado as situações.
Que impedem seu jardim de florescer.
Acorda de manhã e vai pro Sol.
Estende na grama da vida seu lençol.

Deita nele, e vive plenamente o teu viver!

terça-feira, 9 de julho de 2013

A alma de Raquel

Hoje, no dia em que ela nasceu, minha irmã bruxa de alma límpida como um rio cristalino, eu cantei e bebi com os Deuses e Deusas do Amor, da Amizade e da Sabedoria, toda a alegria de tê-la comigo em mais uma de nossas existências! Vida longa a ti! E que o Amor seja sempre tua estrada! 

Quando as portas finalmente se abriram e eu pude contemplar as centenas de milhares de livros que flutuavam no ar, com suas palavras que saltavam das páginas negras em cor dourada e fúcsia, e o cheiro de incenso inundava todo o ambiente, eu senti as mãos de Raquel tocarem as minhas, e num passeio pelas letras daquele mundo, eu a levei. Senti que seus olhos brilhavam diante da sabedoria eterna que vagava no ar da sala e que ela podia absorver essa sabedoria pelas íris, que se tornavam cada vez mais furta-cor. Sua alma transparente agora cintilava em brilhos que ofuscavam aqueles que estavam lá fora, e na parede central da antessala do templo que agora atravessávamos, refletidas no vitral multicolorido, eu li para ela as palavras que escrevi com meu pensamento.


Raquel – num dia de sol e chuva nasceu.
Brincou, cresceu.
Amou, sofreu, lutou, perdeu...
Libertou, venceu.
Raquel – edifício em construção...
O mundo todo na palma da mão...
Amiga, irmã, poetisa, perfume de maçã que eterniza a doçura da vida.
Ah, a vida. A vida por ti Raquel eu daria. Mas há tanta vida dentro de ti, que vida ainda me sobraria. Mesmo que mil vezes morresse. E ressemeada, replantada, florescesse.
És para todos, mas muito mais para mim. És Sol de verão e de inverno. És alva e carmim.
És a certeza da volta.  E quando pro mundo voltamos, prontos para o Amor estamos.
A ti, Raquel, o universo brindou com o maior tesouro real .

Teu coração é de ouro. E tua alma Leal!!!



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Soul de Touro





Caminha manso
Mas não caminha triste
Não traz na alma o blues
Mantém sempre o olhar em riste

Tem na lentidão da flor que se abre
Misteriosa calma embutida em semente
O touro é soul
O touro sente

Chora a dor do amor perdido
Mas vai em frente
Caminha manso
Nunca iludido

Quer segurança, não quer abalos
Quando sente medo
Dispara mais que cavalos
Não olha para trás

Derruba tudo
Passa por cima do que for
Aprende a nunca ter medo
Aprende a guardar o amor

Ama forte
Ama em paz
Mas se não quer
Não quer mais...

Caminha lento
Traz no olhar a sabedoria da terra
Espadas lhe ferem couro adentro
O fazem sangrar
E então vai aos céus
Flamenco dançar...

Alimenta seu povo
Sofre suas dores
Morre de sede e fome
Morre de dor de amores

Salva a vida de muitos homens

O touro é soul
O touro não é blues

Caminha lento
Caminha sábio
Paciente e sereno
Traz sorriso no lábio

Coração de touro
Coração de irmão
Em paz estaremos sempre
Em eterna comunhão

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Cada



Cada instante é sempre

Cada sempre é tudo

Cada tudo um nada

Cada nada um mundo

Cada mundo uma jornada

Cada jornada uma vida

Cada vida uma estrada

Cada estrada uma despedida

Cada despedida um reencontro

Cada reencontro um abraço

Cada abraço um sorriso


Cada sorriso um laço...

domingo, 26 de maio de 2013

O que eu também não entendo ou os fragmentos de uma vida quase inteira




Um olhar frio me restou
Quantas vezes acreditei?
Umas mil quem sabe
Mil mais tentarei
O relógio bate horas vazias
Seu violoncelo não me toca mais
Carros passam e eu não vejo
O frio
A noite
Estrelas pingam cintilantes
Suas lágrimas cadentes
A lua já se foi
Mutante
In Tecnicolor...
Desligo
Seu sorriso some
A dor consome
Eu não posso
Não consigo
Corro aqui só pra dizer
Que o casaco não me esquenta mais
Pinta no muro ali em frente
Tudo o que a crueldade desmente
Todos os meus que tais
Na pressa das palavras
Tropecei caí quebrei
E elas não me levantam mais



quinta-feira, 16 de maio de 2013

Única-Mulher






Surgirá um dia
Uma Única Mulher
Vinda de Atlântida
Com um sorriso calmo
E adagas nas mãos
O andar seguro
De Guerras vencidas
Feita de Força e Delicadeza
De Sabedoria e Amor
Que não poderá ser comparada
A nenhuma outra de sua espécie
Mortal ou Deusa que o for
Com infinita capacidade de amar
E saber perdoar seu Amor
O Tempo implacável não poderá nada mudar
Nada vencer
Nada transformar
A flecha lançada seguirá seu rumo até o alvo
A profecia dita não mais retornará
O coração em tempestade vivo se sentirá
E baterá intenso
Em seu fluxo de sangue e honra eternos
Honra que se lava em sangue de nobres guerreiros
Pontos fracos descobertos
E um não como resposta
Despertando a ira de seus eternos objetos
Luz e treva se alternarão na Terra
E assim, sem mais...
Pois se queres a Paz
Prepara-te para a Guerra

terça-feira, 14 de maio de 2013

Em Trânsito

Penso.
Logo concretizo.
Cimento.
Asfalto.
Chuva de granizo.
Rocha e vegetação.
Mármore carrara esculpido.
Teu rosto em pensamento.
Na agulha negra refletido.
Costurado coração.
Sentimento cerzido.
Patuá carregado.
Colado ao peito liso.
Beijo de boca beijado.
Horizonte d'alma estendido.


terça-feira, 16 de abril de 2013

O Mundo




Quando a dor pesar sobre teus ombros
E o corte da espada for por demais profundo
Estanca o sangue, e sorri
Estás sozinho no mundo

Se a noite não der lugar ao dia
E a escuridão deixar-te moribundo
O caminho, com a luz do olho, alumia
Estás sozinho no mundo

Quando o abandono se sobressair ao amor
E a vida perecer de solo infecundo
Rega a terra com tuas lágrimas
Estás sozinho no mundo

Se por fim as forças perder
E a morte esmagar-te os ossos com seu corpo rotundo
Larga a pele na lama a apodrecer
Estás sozinho no mundo

Quando enfim descobrires tua Força
E que do centro de todo saber és oriundo
Ergue os olhos para a frente e caminha
Não estás sozinho no mundo

sábado, 6 de abril de 2013

Sacerdotiza de Apolo






Teu corpo é um templo
à Apolo dedicado.
Mas teu lábio delicado
com um doce pecado
é a morada do deus.

É amante e amada
dos deuses enamorada
e de poucos mortais.

Tuas curvas tão formais,
que Zeus esculpiu com ardor
és um templo e um santuário
para o culto ao amor.

Sacerdotiza de Apolo - um poema homenagem do poetamigo Aquiles Peleios.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Balada do Amor Inexistente






Ah, não chores pelo desamor alheio!
Cala no peito esse anseio
De ver concretizada a proteção
Não nasceste para ter suave brisa em teu leito
Tempestade te escolheu como discípulo perfeito
Vieste ao mundo a sofrer
Amargura e traição
Seca o pranto e segue em frente
A estrada é longa e por ti aguarda
Há bons amigos de jornada
Não reclames desamparo por então
Agora vês que nada neste mundo é encaixe certo
Mantém teus olhos e o peito bem aberto
Sentirás o amor que vem de outros lados
O que do berço te faltou, não por cuidados
Tens em ti por natureza
Carregas n'alma grande beleza
No brilho dos olhos a certeza
De que não há no mundo só frio e escuridão
Segue em Paz por teu caminho
E saibas que não estás sozinho
Tens de todos o maior tesouro
Mais certo que o amanhã vindouro
Mais vasto que a Imensidão
Tens a Fé inabalável
O Amor maior imutável
Que transborda de teu coração!

terça-feira, 19 de março de 2013

Animais Selvagens


A faca contra o coração já foi atirada.
A poesia na vida de muitos já foi abandonada
Amor, a maior das indústrias lucrativas
E assim a vida se torna cada vez mais abusiva
Já fui apresentado à amizade
Mas tudo que me é apresentado é a falsidade
Falsa felicidade!!!
Maldita maldade!!!
Agindo com ferocidade!!!
Engolindo toda as almas da cidade!!!
Sem piedade!!!
Mas lembre-se que isso não é novidade!!!
Ninguém mais precisa matar!!!
Já que agora se pode comprar!!!
Não espere seu vizinho fazer o que acha certo
Não espere para falar o que precisa ser falado
Esperar esta para desistir
Assim como chegar esta para partir
Chorar não é mais por felicidade
O que é a realidade
Chorar é por tristeza
Que lhe é dada com certeza sem avareza
Ao inferno com teu conceito de normalidade imundo
Ao inferno com tudo que achas justo
Leitões sem alma
Mais selvagens que os animais da fauna
Fome insaciável
Fome por dinheiro e poder inabalável
Amizades inexistentes
Assassinos de cérebros persistentes
Vida complicada
Veículo sem parada
Que acabe logo a gasolina
Porque quero descer dessa latrina

Animais Selvagens - um poema do poetamigo Luiz Guilherme Monteiro.











Homenagem ao Rock Nacional




Em um país onde as músicas
São baseadas em tchê tchê rê rê
E mulheres são nomeadas como frutas
Ler livros deveria ser lei
E um poeta deveria ser rei
Em um país em que a pobreza
Não importa tanto quanto a Copa
E beleza significa mais que caráter
Quem sou eu?
Uma menina fora do padrão
Que ama Paralamas,curte Los Hermanos
Acha Cássia Eller sem igual
Que curte as músicas do Barão
E adora Capital Inicial
Sou eu apenas uma menina que
Ama hoje e sempre o Rock Nacional

Mais que uma poesia, uma justa e bela homenagem ao Rock Brasil, através de pena da jovem poeta Ágatha Barros.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Poesia que se faz nas sombras



Quando tua sombra cruza a minha na calçada,
O sol chega pro lado um instante.
Faz com que minha sombra toque a amada
E volte a ficar distante.

Quando o sol se cobre no poente
Minha sombra vai ao longe delirante
Encontrar sombra alheia de repente!
E se torna tão intensa quanto antes.

Num teatro de vampiros eternos
Que atravessaram tempos e infernos
O caminho se faz assim

É na sombra e na sua natureza
Que se vence a infinita tristeza
E se junta os corações no fim!

Poesia que se faz nas sombras - um poema do poetamigo Rabib Floriano Antonio


Não ser


A mais bonita.
A mais inteligente.
A mais astuta.
A mais esperta.
A mais ética.
A mais gostosa.
A mais articulada.
A mais prática.
A mais rápida.
A mais interessante.
A mais profissional.
A mais bondosa.
A mais livre.
A mais descolada.
A mais sagaz.
A mais lúcida.
A mais lúdica.
A mais responsável.
A mais ...
Há mais.
Ser tudo...
Ser nada...
A certeza do coração palpitante
É a única certeza não conflitante
A vida
Expira no vento
Se inspira no tempo
Acena prá nós
Desate os nós
Solte as correntes
Seja gente
Ame, pense, faça
Ame
Anime-se
Anima
A alma do mundo habita em nós
Uma palavra?
Resumo da ópera: (c)oração.





segunda-feira, 11 de março de 2013

Poesia de última hora


Ai, como eu queria
No meu abraço te apertar
Até seu fôlego tirar
Toda essa melancolia
Prá bem longe da tua boca mandar
E nela só os meus beijos
Poder depositar....


segunda-feira, 4 de março de 2013

Respirar


O céu...
Azul, resplandecente de um calor dourado
Ou vermelho, nublado
Cortado pelos raios e sacudido por estrondo de  trovão
As gotas pesadas de chuva que caem exatas no chão

A noite...
O frescor da noite e o vento
O cheiro da terra molhada
O orvalho que escorrega macio na folha plantada
Libélula que passa voando apressada no tempo

A luz
A sombra
A sombra e a luz...
O silêncio
O som

O alimento que a terra dá
O sol, o dia, o calor
A lua, a noite e o mistério
Toda lucidez
E todo torpor

O piscar dos olhos
O sentir
Comer...
Respirar...
Dormir...



domingo, 3 de março de 2013

Gaia


E de repente a noite explodiu como um rojão!
Bordando de estrelas o negro véu da atmosfera
A voz que vagava sem razão
E trazia em si linda quimera
Ecoou firme a partir de então
Ela brilhou no seu canto
Tal qual estrela cadente
Que passa ao lado da lua veloz, valente
E deixa um rastro de luz no céu Ocidente
Volta correndo prá dentro de si
Mas já não vai sozinha
Leva no ventre bendito
A força de quem caminha
Leva o sal do mar
Leva o perdão
Leva da flor o desabrochar
Leva da vida o maior condão
Ela vai parir, nutrir, acalentar
Ela acolhe nos braços todo o poder de amar
Protege nos seios a vida que chegou
Ela dá a vida por amor
E para a vida ela traz, para a luz ela traz
Quando amada é mais forte que a morte
Se desprezada, vai sofrer sim pela má sorte
Mas logo busca outro rumo, outro caminho
Uma outra estrada
Mas segue firme em sua jornada
Na busca do sonho os pés seguem retos
A vida plena assim se faz
Porque agora não importa mais
O fogo que a fez arder em dor
Hoje a força maior é do Amor
E hoje ela morre pra renascer em Paz!



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Tempo é uma Ilusão



Nos tempos antecessores à inquisição
No templo do saber
Havia um menino a se esconder
Para aprender da observação

Lia à distância o olhar de esperança
Da mulher de pele branca
Tão lírica ao ensinar

Ele só podia olhar
Mas a luz que ela refletia
Não mentia, só fazia apaixonar

Ela tão bela, tão única a brincar de poetizar
Lhe ensinava à distância que a esperança atravessa tempos
No amar

Ele, homem santo a sonhar
Ela, mulher de letras a brilhar
Eles unidos à beira de um tempo
Que não cabia no findar

E na explosão celeste
Depois de acusada de herege 
Com ele foi deitar

Se amaram como almas cármicas
Sem caos, sem tempo, sem pudor

No grande circo do horror
O fogo consumia a pele dela
Mas ela sorria com a dor
Para o seu amor

Ele a chorar rasgou a sacralidade
E correu, para aos pés dela
Mais uma vez se deitar

Queimaram juntos toda forma de restrição
E vivos numa outra explosão
Venceram a mortalidade


Um poema declaração de amor, da poeta-irmã, Raquel Leal.



Excomungue-me





Prefiro as papoulas aos papas
Empapuçando as pupilas de cor
Prefiro a dor mortal à frieza congregacional
Prefiro o meu blues ao seu pretenso céu azul
Prefiro a excomunhão consciente
Do que a aceitação incoerente
Prefiro o calor da fogueira
A me tornar uma vazia obreira
Sem sonhos, sem delírios, sem paixão
Sem nuvens prá pisar feito chão.
Prefiro uma tonelada de terra esquecida
À sepultar de vez meu coração.
Prefiro a vida que se apalpe
A boca que me aceite
O corpo que me procrie.
Prefiro a alma que seja gêmea
O amor que seja fato.
Prefiro o talo da flor vivente
Que vibra coloridamente no jardim do meu quintal
À sisudez papal enclausurada,
No palácio do Vaticano, tão rico, tão belo e tão morto.
Prefiro, enfim, o caminho torto
Que me excomunga e me liberta
Prefiro manter a porta sempre aberta
Do que a hipocrisia do ouvido mouco
Sem bíblia, sem doutrina, sem crença
Morrendo pro comum, voltando em paz
Prá minha própria renascença.

Poema feito a seis mãos, por Gilson Gabriel, Raquel Leal e eu, in Sarau Solidões Coletivas In Bar 11: "Depois das cinzas, a fênix mutante ressuscita" - Homenagem ao rock e à contracultura de 1970, realizado no Mineiru's Restaurante, no Jardim de Cima, em 16/02/13.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Cáucaso


O mundo é triste do Caucaso
Pedra areia e sangue
Algemas duras de Hades
Feitas de diamante

A noite é escura no Cáucaso
Sem estrelas, sem luar
Vento frio na lembrança
Querendo o calor gelar

Águas que rodopiam
Encobrem o sol
O Cáucaso é frio
Tormenta...Xeol

Frio mais frio que o Cáucaso
É esse meu coração
Pedra, gelo e metal
Feito só de razão

A Razão no Cáucaso é carrasco
Acorrenta o coração alado
Como Pégasus de dourado casco
Não permite ser aprisionado

Um poema a quatro mãos virtuais. As minhas e as de Aquiles Peleios.






terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

As coisas mais lindas


As coisas mais lindas
Onde estão as coisas mais lindas?
Residem as coisas mais lindas
Na simplicidade de um sorriso?
As coisas mais lindas hoje moram justamente onde as preciso?
No parapeito da janela em flor?
No barulho dos carros na rua, no motor?
Na música que ao longe se esvai em notas sutis?
Nos olhos ardentes e nos lábios febris?
As coisas mais lindas
Onde estão as coisas mais lindas?
Habitam nos pensamentos?
Preenchem os momentos?
Transbordam dos sentimentos?
Flutuam as coisas mais lindas junto com a nuvem que voa?
Repousam na linha afiada do atame que corta a carne boa?
Dançam no sangue de vinho que bebes na boca de outra pessoa?
Sim meu caro.
Lá estão as coisas mais lindas!
Em toda luz e todo mistério.
Em tudo que carregas no peito.
Em tudo o que te incute medo.
Em mais de um segredo.
No porvir...
Naquilo que não vês, mas podes sentir.
Em todas as rugas de risos e lágrimas que te permitir.
As coisas mais lindas estarão a te aguardar e sorrirão para ti.
Eternamente sorrirão para ti.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tua Presença


Antes de ter contigo à mesa
Tudo é estranhamente normal
Vejo e ouço com clareza
Tudo está certo, é natural

Depois de algumas horas contigo
Meus pensamentos fluem rapidamente
Verbalizar é difícil
Difícil dizer o que se sente

Deixo-te; estou entorpecida e leve
O sorriso vai comigo aonde eu for
Por horas longas, que parecem breves
Sinto na pele o seu ardor

Durante o sono sinto-te mil vezes
A ferver em mim milhões de pensamentos
Versos, imagens e dizeres
Que de manhã ao acordar ainda me lembro

Mas quão difícil é o depois da tua partida
Me sinto oca, tonta, desolada
Todo o corpo sente a despedida
E espera ardente por nova hora marcada
Para encontrar-te e sorver-te o gosto quente
E a anestesia para a vida desejada



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Água e a Terra

A água a terra.
A água cai.
A terra está.
Movimento.
Pausa.
A água toca na terra.
Penetra-a.
Tornando-a menos dura.
Menos inflexível.
Mais macia.
A água fecunda-a de vida.
A terra retribui com cores.
Aromas .
Formas.
Sabores.
A água e a terra
Moldam a vida
Faz o homem
Cura ferida
A terra dá o curso
Do caminho que a água faz
E nesse belo percurso
A água e a terra ficam em paz!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Eterno em Nós





E então a Deusa fez o mundo
E junto com Zeus nos criou

Dos abismos mais profundos
Ao mais forte vento que ventou
No alto da mais alta montanha
Lá estávamos nós
Atravessado planícies
Juntos, a sós

Cruzando cordilheiras e oceanos
Lado a lado lutamos
Fomos noite, fomos dia
Fomos o eterno em nós

Irmãos
Pai e mãe
Amigos
Amantes
E o que podia ser uma aventura errante
Virou paz
Virou abrigo

Eu te descobria
Conhecendo-te o brilho negro do olhar forte
Sorriso calmo que prenuncia a morte
Como a maciez do andar do lobo traz o sol do novo dia

Conheço a força de teus braços no abraço
E a intensidade com que matas o inimigo
Ah! Sim, conheço bem!

Conheço todas as guerras inatas
Todas as lutas insensatas
E as vitórias perdidas também

E tu me olhaste e me viste fêmea
Me viste estrela do Oriente
Me viste luz

Luz que te guiava, iluminando tua estrada
Te conduzindo pela mão
Às doces terras do coração

Prazer alucinante e dor
Aconchego viciante
Provocante amor

Mas as escolhas que fizemos desta vez
Nos separou em corpos
Nos endureceu a tez
E deixei-o só, e me vi só
Andando por caminhos tão distantes
Que agora pisam teus pés, o pó

Quem dera nos tivéssemos
Conhecido em outros tempos
Antes de fatídicos acontecimentos
Que por fim, nos separaram

Se tudo fosse diferente
Se nada impedisse a gente
De lutar uma luta fatal
Hoje um estrela só sua
Brilharia no seu quintal

Viveria a podar as anãs
As pequenas estrelas pagãs
De sabedoria ancestral

Mas o mistério permanece
Num segredo de ti para mim
Que tu finges não saber que sei
E eu finjo não dizer que é assim

E dessa forma, seguindo a girar
A roda que é o pensar
Mas também é a decisão
Somos um só novamente
Em corpo, alma e coração

A enganar solenemente
A fingir que é inexistente
A tola e ingênua razão

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Ouroboros


Ela abriu os olhos. Estava finalmente de volta ao lar, acolhida, protegida, resguardada por aquelas velhas paredes que ela mesma construíra ao longo dos anos. Assim que acordou, imediatamente recordou-se da tempestade do dia anterior e de todos os dias que antecederam aquele momento, desde  o começo de sua tormenta. Olhou em volta e vislumbrou com orgulho e também com um certo pesar aquelas paredes, ainda tão belas, mas já muito marcadas por vários furos, arranhões e pregos. Sentiu o cheiro de casa. Respirou profundamente, espreguiçando-se na cama macia e então, como um relâmpago que atravessa o céu, ele veio em seu pensamento. Sentiu na mesma hora aquela dor aguda no estômago, seguida de uma náusea e de um calafrio que pareceu durar a eternidade. Resolveu afastar aquela sensação. Depois de alguns minutos, conseguiu pensar sem medo algum, apenas com a serenidade que alcançara através de muitas lutas e de feridas mortais.  Mais uma vez, o velho vulcão tinha despertado, ameaçando tudo e todos com sua fúria, com sua impiedade. Ela bem conhecia aquela sensação de pânico crescente. Mas acostumara-se a lidar com o medo do inesperado.  A saber a hora de agir e a hora de recuar. Todavia, diferentemente dos outros, sempre  mais comedidos e mais ponderados, ela raramente recuava.

Um dia, numa despreocupada madrugada de terça, o velho vulcão, já plenamente desperto, resolveu então dar sinais de que sua devastação dessa vez seria implacável, intensa, arrasadora e irreversível. Ela olhou ainda uma vez  para aquela montanha imponente, sentindo-se pequena e desprotegida diante de sua magnitude e força, mas absolutamente consciente de que essa luta não seria como as outras. Algo mudara desde as últimas erupções. Algo novo e ainda mais forte do que antes estava borbulhando naquela lava. Algo incontrolável e impossível de ser parado estava ali, pulsando no coração daquele vulcão, pronto para devorar-lhe a carne. Ela sentiu um profundo medo em seu coração. Um medo real. O mesmo medo que sentira em outras ocasiões como esta, porém, com uma intensidade inexplicável. Ela soube então que agora seria de verdade. Agora seria pra valer.

Debaixo de olhares reprovadores e admirados de todo o povo daquele lugar, ela começou a subir a montanha. Os gritos de "Volte! Você está louca?!" e " Não faça isso a você mesma!" foram ficando cada vez mais baixos, mais fracos, até desaparecerem por completo. Sua libertação era também a libertação daquelas pessoas, que nunca poderiam entender questões como renascimento e morte, tão presos que estavam em suas vidas comuns. Felizes, mas comuns. Nada de novo. Apenas a falsa sensação de estabilidade que a rotina traz. Na sua frente agora só uma fumaça preta e fuligem começavam a se transformar num espesso paredão, e o calor aumentava a cada metro percorrido. Estava próxima de seu objetivo, pensou consigo mesma. Mais uma vez, iria experimentar aquele medo, aquele abandono, aquele vazio, aquela sensação única que só os grandes na alma conhecem, porque sabia que no fundo, esse é destino dos que têm a alma a transbordar. Ser, acima de tudo, sozinhos.  Teve plena consciência da beleza daquele momento. E também de toda a tristeza que ele trazia em si. Em seu peito agora, só um imenso buraco negro. Um imenso vazio, que em breve, seria da forma mais completa e perfeita possível, preenchido.

Olhou lá do alto a lava fervente do velho vulcão e pôde ouvi-la nitidamente chamar o seu nome. O momento havia chegado. Não mais o adiaria, não poderia fazer mais isso, sentira no começo de tudo que, dessa vez, apesar de todas as lutas, de todos os esforços, das batalhas que ganhara até então, havia perdido a guerra. Mas sabia também que perder era receber de volta a própria liberdade e por isso não mais sentiu medo. Não precisava mais lutar contra aquele sentimento.  Fechou os olhos e então mergulhou.

Mergulhou um mergulho profundo e sem medo naquele calor, e durante todo o tempo em que caía, lembrou-se de vários momentos de sua vida. Lembrou com saudade das algazarras que fazia junto dos seus na infância, das disputas adolescentes, dos momentos de sofrimento e também das horas felizes. Tinha vivido aquela vida plenamente. Não havia apenas passado por esta Terra, mas havia vivido. Havia sentido coisas que ninguém jamais sonhara em sentir, entendia esses sentimentos, os sabia reconhecer. Isso a tornava tão mais rica, tão mais bela, tão mais eterna! Era eterna! E a eternidade podia ser sentida de uma forma cada vez mais quente, cada vez mais acolhedora, cada vez mais próxima. Minutos antes de tocar a lava do velho vulcão, pensou no que de mais intenso havia experimentado até aquele dia. E quando, finalmente, seu corpo foi entregue às chamas, ela pôde, pela primeira vez naquela existência, experimentar na mente, no corpo, na alma e no coração, toda a realização que só uma coisa é capaz de trazer à qualquer criatura viva na face da Terra. Ao entregar a si própria em sacrifício, ela soube que o buraco em seu peito havia finalmente sido preenchido e isso era só o que importava. Ao abraçar o fogo, ela soube então que sentia, pela primeira vez, toda a plenitude do verdadeiro Amor.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pegar Pensamentos (ou A alquimia do que virá)




Numa noite nem tão fria assim
Peguei todos os meus pensamentos
E em fogo, água, terra e ar
Os transformei
Transmutei os meus sentimentos
As palavras, alquimizei
O beijo então virou rubi
Abraço era água marinha
O olhar de turmalina
Sorrisos, diamantes
O toque das mãos é olho de tigre
Sorte, força e poder.
A coroa do rei é de ouro maciço
Sinto, logo existo
Na alquimia das sensações tórridas
O fogo é o elemento transformador
Não há lógica alguma nisso
Não, não há
Mas se sinto e logo existo
Me transmuto a mim mesmo
Pego todos os pensamentos
E alquimizo com o que virá
O futuro a deus nenhum pertence
O futuro a Sibilla me dirá

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Como nascem os planetas



No começo é o Nada.
A escuridão.
Um ponto de luz se materializa no espaço vazio.
Um outro ponto de luz também surge de repente.
E se olham na imensidão.
E se atraem.
E começam juntos a bailar no espaço sideral.
A dança cósmica de seu nascimento.
E se tocam.
E se encantam.
E se amam.
E se misturam um ao outro numa efervescência galáctica.
E uma forte pressão começa a ser sentida.
As estrelas param de girar por um segundo.
Um segundo transformado em eternidade.
O Universo implode.
E os pontos de luz explodem.
Juntos.
E de seus incontáveis micro pontos de luz.
Girando no nada e na elipse invisível.
Onde o Sol queima e atrai.
Nasce um planeta.
Dessa explosão de luz e cor.
O que se separa, une.
O que se une, consolida.
Oceanos acordam.
Continentes se movimentam.
Todos os seres respiram na superfície.
E sob a sombra de um carvalho.
Deitados na relva úmida.
Ele e ela estão abraçados.
E descansam de sua criação.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

De tudo o que não sei


Momento estranho
Tacanho
Oblíquo momento
Onde não sopra um vento
Momento ruim
Pulsa em mim
Traz o escuro
O frio
Arrepio sem fim
Não é bom
Não é quente
Não vem da gente
Vem do fim
Do que ainda é só começo
Vem certeiro
Me entrego
Me despeço
Medo verdadeiro
De tudo o que não sei, enfim